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Os mártires de Nossa Senhora do Carmo


Julho é um mês carmelita por excelência, em que se celebram a Solenidade de Nossa Senhora do Carmo no dia 16 e, no dia 20, a Festa do Profeta Elias, pai espiritual da Ordem fundada no século XIII por eremitas, retirados na montanha do Carmelo. Foi neste mesmo lugar que, mais de um milénio antes, Elias tinha visto uma “nuvenzinha tão pequena como a palma da mão”, que anunciava chuva e vida após uma terrível seca. Viu-se na nuvenzinha a prefiguração de Maria, escolhida como Mãe e Irmã da Ordem. Elias sempre teve que fugir dos que lhe queriam dar a morte, por proclamar a sua fé e seu amor para com o “Deus vivente”. Foi ainda noutra montanha, o Horeb, que Elias descobriu a presença de Deus na passagem de uma “ligeira brisa”. A escuta da Palavra no silêncio e a fortaleza em qualquer adversidade fazem parte do carisma carmelita, dos tempos fundadores da Ordem até à actualidade.

Muitos carmelitas pagaram com a vida a fidelidade ao seu compromisso de fé e amor. Em julho, como aliás no mês de agosto, fazemos memória de padres, irmãs, frades e leigos carmelitas brutalmente assassinados nas tormentas de revoluções e guerras. No dia 17 de Julho de 1794, são julgadas e decapitadas em Paris 16 carmelitas do Carmelo teresiano de Compiègne, com idades de 29 a 78 anos : 10 professas, uma noviça, 2 irmãs rodeiras e 3 irmãs leigas. No dia anterior, tinham celebrado na prisão, com grande entusiasmo, a solenidade de Nossa Senhora do Carmo. A multidão ficou impressionada com a sua calma e dignidade. A prioresa, Beata Teresa de Santo Agostinho, aos pés do cadafalso, abençoou cada uma das irmãs. Subiram os degraus uma atrás da outra, cantando o salmo 116, Laudate Dominum, omnes gentes (Louvai a Deus, todos os povos). Foram beatificadas pelo Papa Pio X em 1906.

No início da Guerra civil em Espanha, muitos mártires caíram fuzilados. Em Guadalaraja, todas as religiosas deixaram o Carmelo no dia 24 de julho de 1936. Apesar de terem tirado o hábito, algumas foram reconhecidas na rua por milicianos. A Irmã Maria dos Anjos teve morte imediata. Para Maria do Pilar, o martírio foi mais doloroso, pois morreu no hospital. A mais nova, Teresa, 27 anos, foi enganada e levada para um descampado; aí recusou renegar a fé como lhe pediam e deixaram-na fugir para a fuzilar de costas. Foram beatificadas pelo Papa João Paulo II em 1987.

Pedro José Poveda Castroverde (1874-1936), de Jaén, foi ordenado padre em 1897. Em Guadix, desenvolveu uma vida missionária junto dos pobres, criando em 1902 as Escolas do Sagrado Coração de Jesus para a formação profissional e cristã dos marginalizados. Em 1911, fundou a Instituição Teresiana, Associação de Profissionais Católicos leigos, inspirado por Maria e um impulso apostólico típicamente teresiano. Inicia-se então o período mais importante dos seus escritos espirituais. Esta instituição recebeu aprovação pontifícia em 1924. Detido em 27 de julho de 1936, foi encontrado baleado no dia seguinte, com o escapulário de Nossa Senhora do Carmo. Foi beatificado em 1993 e canonizado em 2003.

O holandés Titus Brandsma (1881-1942), beatificado pelo Papa João Paulo II em 1985, entrou na Ordem do Carmo e foi ordenado sacerdote em 1905. Doutorou-se em Filosofia pela Universidade Gregoriana de Roma e foi professor de filosofia e história da mística na Universidade Católica de Nimega. Publicou centenas de artigos científicos e de divulgação. Também foi jornalista e exerceu a função de Assistente eclesiástico dos jornalistas católicos. Tornou-se conhecido de todos pela sua afabilidade e disponibilidade. A partir de 1935, opôs-se à ideologia nazi, defendendo a liberdade das escolas católicas e escrevendo contra a perseguição aos judeus. Após a ocupação dos Países Baixos pelos alemães em 1940, Frei Tito continuou a sua luta contra o partido nazi do seu país, acabando por ser preso pela Gestapo em janeiro de 1942. Passou por várias prisões holandesas, continuando a escrever. O seu diário mostra como a presença de Maria foi muito forte nos últimos meses da sua vida. Em junho, foi transferido para o campo de concentração de Dachau na Alemanha. Com saúde já muito fragilizada, não deixou de animar os companheiros detidos, convidando-os a perdoar. No dia 26 de Julho, abreviaram-lhe a vida na enfermaria do campo com uma injeção mortal. No Carmelo, a sua memória é celebrada no dia 27 de julho.

«Maria, que conservava todas as palavras de Deus no seu coração, soube compreender, pela plenitude da graça que lhe foi concedida, o grande valor do sofrimento. Enquanto os discípulos fugiam, ela foi ao encontro do Salvador a caminho do Calvário e permaneceu ao pé da cruz participando no seu opróbrio e nos seus últimos sofrimentos. E depositou-o no sepulcro com a firme esperança da sua ressurreição”.

(texto do Beato Tito Brandsma, integrado no Ofício de Leitura da sua memória litúrgica)

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