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Santa Isabel da Trindade


O mistério da Santíssima Trindade é o abismo no qual Isabel, perdendo-se, se encontra (C 56). É «uma Imensidade transbordante de amor», que embebe e vivifica todas as fibras do ser, que se infunde na alma à medida que a pessoa chega à graça batismal com a fé e se conforma progressivamente a Cristo. O horizonte da realidade se dilata sempre mais (cf. C 83) e tudo se ilumina, porque Cristo introduz nas profundezas da alma, «naqueles abismos nos quais só se vive d’Ele», fazendo participar do seu olhar, dos seus sentimentos, do seu coração: «Ele fascina, Ele arrebata. Sob seu olhar, o horizonte se torna tão belo, tão vasto, tão luminoso!...» (C 109). A Trindade não é uma verdade abstrata e complicada, mas a vida dos Três – assim os chama –, que em sua feliz comunhão criam o mundo e a humanidade, envolvendo-os no esplendor do Amor, da Luz e da Vida. Deus é o Pai, seu Filho e o seu Espírito: «a nossa casa, a nossa intimidade, a casa paterna da qual não devemos sair nunca» (O Céu na fé, 2).

Viver na fé, conhecer o amor de Cristo crucificado por nós, habitar numa luz que chega a tornar belos os momentos mais dolorosos da vida, ser transformados pelo Espírito – como aconteceu em Maria –, viver inabitados pela Trindade, encontrar a paz do Céu na terra são, para Elisabeth, sinónimos.

A Eucaristia é a chave dessa visão luminosa e profética da vida. Na experiência de Isabel desde o dia de sua primeira Comunhão, a comunhão sacramental com Jesus e a adoração prolongada da sua constante doação a nós – visível na hóstia consagrada – serão a fonte de experiência, a porta de acesso, o lugar de confluência de todas as iluminações e graças que receberá em sua breve e intensa vida. Entrando na capela enquanto o Santíssimo Sacramento está exposto, parece-lhe «que está se entreabrindo o Céu; e, na realidade, é isso mesmo, pois aquele que adoro na fé é o mesmo que os bem-aventurados contemplam face a face!» (C 114). «Nada nos manifesta tanto o amor que está no coração de Deus como a Eucaristia. É a união consumada, é Ele em nós e nós n’Ele; e não lhe parece que isso é o Céu na terra? O Céu na fé, enquanto se espera a visão beatífica face a face». A espera desse encontro faz com que «tudo desapareça e temos a impressão de que já penetramos no mistério de Deus!» (C 138). Na Eucaristia, a realidade do Céu se torna presente, comunicada e personalizada pelo Espírito para cada alma, porque o Céu é «o que o Espírito Santo cria em teu coração» (C 210). A Eucaristia é uma realidade de tal modo vital que Isabel empenhou-se para atingir o objetivo de ser digna de receber diariamente a Comunhão eucarística (em um tempo em que não era uma prática habitual): «Então, meu Deus, terei realizado todos os meus desejos: receber-Vos todos os dias e, entre uma Comunhão e outra, viver em união convosco, em intimidade convosco. Oh! Este é o Céu na terra!» (Diário).

Como São Francisco, Elisabeth considera a Eucaristia em estreita conexão com o Natal, do qual emana a luz esplêndida que torna visível aos nossos olhos o admirável Mistério da Encarnação, início do cumprimento da salvação e da glorificação da humanidade por meio da efusão da caridade e da união íntima com Deus, que se realiza no coração do homem mediante a fé (cf. P 75, 86, 88, 91).


Extrato da Carta do Pe Saverio Cannistrà à Ordem por ocasião da canonização da Beata Isabel de Trindade (1880 -1906), em 16 de Outubro de 2016

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