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São José, santo predileto de Teresa de Jesus


A festa de São José é celebrada na Ordem do Carmo desde a segunda metade do século XV. Os carmelitas foram os primeiros a compor um ofício litúrgico inteiramente consagrado ao santo na Igreja latina. Mas quando Teresa relata o ponto de partida da sua devoção, fá-lo como opção pessoal e espontânea, com a sua experiência de paralítica na enfermaria do Convento da Encarnação. É amiga da Sagrada Escritura e dos letrados – “De devoções à toa, livre-nos Deus!”, afirma na sua autobiografia (Vida 13, 16), mas não vê inconvenientes em recorrer à piedade popular. No seu breviário, tinha uma lista dos seus santos favoritos, mais de trinta, e o primeiro, o predilecto, é “Nosso Pai São José”.

No Livro da Vida, são três os momentos marcantes para uma relação mais íntima com São José: a cura da paralisia, aos 26/27 anos (por volta de 1542), a sua "conversão", aos 39 anos (cerca de 1554) e a fundação do primeiro Carmelo reformado, tinha então 47 anos (1562).

O primeiro momento é certamente decisivo (V 6). Em agosto de 1539, entrou num coma profundo de 4 dias, ficou depois “mais de oito meses” paralisada e “quase três anos” com lenta recuperação. Foi então que invocou São José: «Ao ver-me ainda tão jovem e tão entrevada, sem que os médicos da terra me pudessem fazer mais nada, decidi recorrer aos do céu para que me curassem… Escolhi como advogado e protector o glorioso S. José, e encomendei-me muito a ele. De forma clara, vi que…este Pai e Senhor meu me salvou com um proveito maior do que aquele que eu lhe pedia.»

Da sua “conversão”, olhando para uma imagem de Cristo "muito chagado" (V 9), refere Teresa: «De admirar são as grandes graças que Deus me tem concedido por este glorioso Santo; livrou-me de todos os perigos, tanto os do corpo como os da alma.»

Na fundação do Carmelo reformado, Teresa tinha entrado na experiência mística do divino com Jesus Cristo e inicia a sua missão eclesial sob a protecção de Maria e S. José. É o próprio Cristo quem a intima a fundar o primeiro Carmelo: «deixou-me grandes promessas: o mosteiro iria ser construído e Deus muito servido nele; que lhe pusesse o nome de S. José, pois uma das portas seria guardada por ele, a outra por Nossa Senhora e Cristo andaria connosco.» (V 32,11).

A atitude da santa para com São José não depende da tradição popular, mas sim directamente do Evangelho e da sua experiência pessoal. De fato, Teresa esclarece a vida de S. José a partir do texto bíblico. Ele é “pai adoptivo” de Jesus e exerce a sua autoridade de pai. «O Senhor quer dar-nos a entender o seguinte: assim como Ele lhe obedeceu na terra, – se lhe chama pai, embora adoptivo, é porque S. José podia mandar nele –, assim também no céu faz tudo quanto lhe pede.» (V 6,6). No mistério da Encarnação, Teresa apresenta José com uma missão de serviço junto de Jesus e Maria. Mas também, e surpreendentemente, reserva-lhe o papel de modelo e mestre de oração. «As pessoas de oração deveriam ser particularmente suas devotas... Quem não encontrar um mestre que lhe ensine o caminho da oração, tome este glorioso Santo por mestre e não se enganará no caminho.» (V 6,8). Oração silenciosa de José, modelo de serviço e contemplação junto de Jesus e Maria. Se a oração é «uma relação de amizade com Quem sabemos que nos ama» (V 8,5), quem amou e serviu como José? Teresa propõe este modelo e mestre aos seus leitores a partir da sua experiência pessoal.


Segundo Tomás Alvarez, San José, in Diccionario Teresiano, www.teresavila.com

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